20 de abril de 2010

Transportes Públicos IV

Hehe, muito tempo passou desde que eu descrevi algumas das minhas aventuras e desventuras nos grandes transportes públicos portugueses. Não tenho tido grande oportunidade (ou paciência) para escrever, mas os transportes, esses sim, são uma terra prometida para pessoas como eu que têm o prazer macabro de observar eventos que outros consideram do dia-a-dia.

Ou não.


Há cerca de uma semana estava a descer as escadas da estação de comboios, para proceder à passagem do passe pelo sensor para me pôr dali para fora daquela confusão. Acontece que, ainda a descer as escadas, vejo uma situação pitoresca:

Uma coitada de uma senhora também queria passar obviamente. Infelizmente ela tinha uma daquelas coisas que fazem um barulho irritante quase constante.... err, não me lembro do nome.... Ah! Uma criança, sim, é isso, bicho com nome esquisito. Nomeadamente era possivelmente muito muito jovem, com um bocado mais de um ano, presumo (não é realmente a minha especialidade). Por acaso na altura tava caladinho, devia estar sem pilhas. Enfim, avante...

Com a carga a mais, era mais díficil à senhora consegui validar o passe, pois a mão mais própria para o acto estava ocupada com o infante. Nisto ela decide trocá-lo para a outra mão. Reacção perfeitamente lógica. Mas com sacos, saquinhos, passe, puto, mais sacos e pessoas a empurrar, outra vez o puto, e mais sacos, e o puto a agarrar sacos, pessoas a rugir palavrões, a senhora mal repara que a cancela já tinha aberto. Quando finalmente decide avançar acontece algo épico. A cancela começa a fechar-se.

Acho que a imagem do bébe a levar com a cancela em cima e a abanar-se todo meio zonzo nunca me irá sair da cabeça. A cara aterrada da mãe e o olhar absolutamente confuso do miúdo (se ele tivesse capacidade de raciocínio aposto que estaria a pensar: "O que é que num raio é que me aconteceu!?!?!". Pelo menos tinha claramente esse olhar na cara.) foram o que quase me fizeram rir naquele momento (e foram o que definitivamente me fez rir às gargalhadas quando cheguei a casa). Não me interpretem mal, acho que o puto não se magoou nem nada.



Não há nada que me irrite mais que um puto. Nada. Normalmente as pessoas chamam-me parvo por dizer coisas destas, mas desta vez, até essas concordariam comigo:

Comboio das sete e meia. Destino: Oriente. Uma boa viagem de 20 minutinhos sem contar com paragens frequentes do comboio. Digamos meia hora. Sentado num dos bancos está um homem (que tinha um ar de felicidade horrível). Quando o vi pensei logo "Ui, até parece que tem ao lado uma daquelas coisas, ai.... como é que se chamam... aqueles bichos.... Ah, crianças! É isso... Nada consegue chatear tanto uma pessoa como um bicho desses!". Para minha pequena surpresa, de facto lá estava um, ao lado do senhor, a fazer-se de macaco.

Muitos não terão a noção, nem eu consigo descrever a dor que foram aqueles 20 minutos, com até o pai (sim, vim a descobrir que era o progenitor de facto) a "passar-se todo" (para usar uma expressão mais banal), inclusivamente a chegar ao ponto de o culpar por irem chegar atrasados a seja lá onde for que iam.

Estou em ponto de ebulição, "A manhã não me começa naaaada bem...", penso. Mas há uma luz ao final do túnel (ou haveria se aquela linha de comboios tivesse um... vocês percebem, Santo Deus!). A estação do Oriente está a uns escassos 200 metros. O meu ser exulta com todas as forças, agora que a cacofonia do ser berrante parecia atingir o clímace. O inesperado acontece.

O comboio pára.

"Pedimos desculpa, mas por avaria da sinalização iremos ficar parados por uns instantes".

Apeteceu-me transformar no Incrível Hulk (não o jogador de futebol, o gajo verde que destrói tudo por razão nenhuma), nem que fosse para rebentar com as portas e poder escapar àquele literal martírio.

Os breves instantes acabaram por ser 10 minutos. Nesse dia jurei que nunca mais quereria ver (ou ouvir especialmente) esse miúdo na vida.

Hoje passou uma semana desde esse menos afortunado encontro. Manhã. Mesmo comboio. Mesma carruagem. Entro. Reconheço o mesmo senhor com um ar que parecia mais miserável que na semana passada. Apavorado olho para o seu lado. Decidi voltar-me e ir para outra carruagem. Mas o comboio já rolava outra vez.

Morri de infelicidade durante outros longos 24 minutos e 45 segundos... Cada segundo pior que o anterior. Vou ter de mudar de carruagem às Terças...

1 comentário: