19 de janeiro de 2010

Reflexão Pessoal II

Há três coisas pelas quais eu defino o meu modo de viver. "Coisas"/conceitos (como quiserem) pelas quais vivo e vejo as situações do dia-a-dia e com as quais interpreto tudo à minha volta.

Decidi que se eu quiser fazer mais reflexões pessoais neste blog tenho em primeiro que explicar um bocado do meu "eu". E começo com umas das minhas favoritas.

A lógica. A lógica pura, dura, e especialmente fria.

Ah sim, a lógica. Da maneira que eu a uso, é a minha maior vantagem e desvantagem ao mesmo tempo.

A capacidade de observar um determinado conjunto de eventos ou factos permite aos utilizadores de lógica conjurar teorias com maior probabilidade de certeza, juntando as peças como um "puzzle", digamos leigamente. Facilitar o dia-a-dia nas mais variadas situações é uma das grandes vantagens, por exemplo, saber que um colega não chegou ainda porque o carro não se encontra no sítio normal (exemplo simplicíssimo), ou descobrir o culpado de algum delito (quando digo "delito" estou a considerar que o pior que se faz parecido com isso no dia-a-dia é uma brincadeira de mau gosto, por exemplo) pela simples junção de vários factos aparentemente irrelevantes (aliás, como já tinha referido). Obviamente depois há os grandes mestres da lógica: os da matemática, os das ciências (bom, a matemática é uma ciência por si só, mas enfim). Estes intelectuais usam-na tanto para benefício da Humanidade como para o terror e o caos. Suponho que a lógica é verdadeiramente uma das coisas mais perigosas do mundo. Paradoxalmente, os que usam a lógica para criar armas de destruição, não a usam para descobrir que não há benefício (nem a curto nem a longo prazo) em criá-las. Mas isto foi um pequeno aparte. Ah, e há sempre aqueles que competem usando lógica por prémios ou reconhecimento (como no xadrez, etc.).

Eu gosto de pensar na lógica como algo que ajudou, ajuda, e ajudará a Humanidade a desenvolver-se e a corrigir erros irracionais anteriores. É uma visão algo ingénua, admito, mas a lógica diz-me que a destruição tem limites, e o intelecto humano não. Mesmo que o Armagedão ocorra e haja décadas de Inverno nuclear e essas patranhas todas, acho lógico que a partir daí só se pode subir, portanto o mesmo pode acontecer agora (em que, admitamos, as coisas não estão tão cataclísmicas ainda).

Só me mete pena ver que é tão pouco utilizada. Pelo menos no seu maior potencial. A curto prazo ainda vai sendo usada, para situações mais banais. A longo prazo é mais díficil, suponho, pois envolve pensar em objectivos muito no futuro e cuidadosamente planear (logicamente também claro) os melhores planos de acção. Por exemplo, decidir sacrificar de certos luxos/vícios para grande benefício muito mais tarde (fumar pode ser um bom exemplo: qualquer um que decida que para não morrer mais cedo tem de abdicar de fumar está, na minha opinião, a pensar logicamente).


Infelizmente a lógica tem enormes falhas quando aplicado num ser humano. Há sentimentos que não podem ser racionalizados, e normalmente quaisquer tentativas de o fazer resultam numa bela dor de cabeça. Aí pode acontecer uma de duas coisas: ou simplesmente se aceita que por causa da complexidade do ser humano há sentimentos que não podem ser racionalizados e ficamos por aí; ou então recusa-se a admitir que tal sentimento sequer existe (porque, lá está, não é racionalizável) e é meramente um conjunto de outros sentimentos, que esses sim, existem. O amor é um excelente exemplo para esta teoria minha.

7 comentários:

  1. Deixa ver se entendi: o amor é um conjunto de outros pequenos sentimentos que logicamente todos juntos criam esse enorme sentimento. Hum isto cheira-me a bacoquice (nem sei se esta palavra existe).

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  2. Exactamente, da maneira que eu vejo. Escandaloso não é? Claro que essa é uma das opções que eu disse. A outra (de simplesmente admitir que é um sentimento próprio não racionalizável) também pode ser válida na minha opinião, dependendo da perspectiva de cada um.

    Ah, e por acaso bacoquice existe. Fui verificar. Vem de bacoco: Indivíduo pouco atilado; ingénuo, pacóvio.

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  3. Obrigado pela "dica" da palavra.
    Quanto ao "subject" deste post dir-lhe-ei: se o amor é a conjugação lógica de pequenos sentimentos, não haverá aqui uma ligeira contradição? Os sentimentos mais pequenos não serão também eles ilógicos? E se o forem como todos juntos podem tornar algo lógico? Ou será que o amor é outrossim um sentimento mensurável? Demasiadas questões, talvez...

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  4. Sim, é um excelente ponto que esperei que alguém questionasse. Há sentimentos que podem ser racionalizados. O medo, por exemplo, provém da reacção lógica à adversidade assustadora ou inconveniente. A alegria, pelo contrário ocorre como reacção a situações mais satisfatórias. Ora, o amor (e começo a pensar que terá sido um exemplo demasiado complexo) não é apenas a conjunção de sentimentos como a alegria, a afecção, a obediência (bom, de certa maneira pelo menos), a paciência, entre outros...?

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  5. Espero que não! Camões melhor que ninguém explicou o amor num belíssimo soneto do qual a seguir transcrevo o primeiro verso:

    Amor é um fogo que arde sem se ver

    Ora esta fantástica definição sobre o Amor é qualquer coisa de sublime. O Amor, por muito que custe aos racionalistas nada tem de racional e de lógico. As sensações são isso mesmo, sensações.
    Quem vive num país onde a guerra é frequente não tem medo nem de armas nem evetualmente de morrer. Nós teríamos obviamente sensações de insegurança terríveis. O Amor por alguém é claramente reflexo duma educação que tivemos e de valores que ao longo da vida fomos adquirindo.
    Por Amor se têm cometido as mais bárbaras atitudes e também as mais belas. Amar é como dizia Florbela Espanca sofrer. E o sofrimento é outros dos sentimentos ilógicos, patéticos e provavelmente pueris...

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  6. Engraçado que da maneira que eu interpreto, essa mesma frase dá razão ao meu texto.

    "Amor é um fogo que arde sem se ver"

    É um fogo que arde, portanto é algo que se sente de maneira muito forte cá dentro. No entanto, não se vê, que posso interpretar como se o autor estivesse a dizer que não existe, e por isso qualquer sentimento desse tipo é irracional, mas consegue que façamos as coisas sem pensar nas consequências. Daí uma outra explicação para a analogia do fogo: destruição.

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  7. O fogo pode ser algo também diferente de destruição. Pode ser calor, arrebatação, paixão. Neste trecho de Camões podemos claramente abservar que o amor é para o poeta algo muito forte, marcante. Como um ferro em brasa numa pele. Porém como é natural perfeitamente irracional, longe de todos os sentidos quadrados com que alguns tentam rotular a própria vida.

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