6 de janeiro de 2010

Jeremias espera pelo comboio na estação. Tinha chegado dez minutos depois do que mais recentemente tinha passado ali. Felizmente, a espera entre comboios era pequena, portanto instalou-se confortavelmente numa coluna da estação que suportava o telhado transparente.

Àquela hora, a estação era um sítio frio. Não por causa da temperatura, mas porque as últimas pessoas estão a sair, cansadas, dos seus trabalhos e a voltar para o aconchego dos seus lares. Poucos têm vontade de andar enquanto esperam e ainda menos têm vontade de falar. Apesar de haverem ainda muitas vidas humanas ali, pouca vida havia na estação. Movimento. Nulo. Som. Nulo.

Jeremias tem o olhar fixo na linha ferroviária, como era normal para ele. O espectáculo sombrio à volta dele deprimia-o. Preferia não olhar para nada de concreto.













Mas eis que lhe parece ver um movimento. Rapidíssimo! Subtilíssimo. Com maior atenção, espera. Queria provar a si próprio que não estava a alucinar. Conseguiu.

Por entre as pedras do caminho ferroviário, surge a cabecinha de um ratinho, pequenino. Timidamente saltita para debaixo da linha. E de segundos em segundos surgem vários outros diferentes, saltando, correndo, brincando, a esconderem-se para logo reemergirem.

Jeremias, quando suspendeu a sua cara de espanto, sorriu. Observou que mais ninguém tinha reparado no fenómeno peculiar que lhe ocorria mesmo à sua frente. Que fosse. Seria um momento de magia privado que lhe tinha sido facultado ora por coincidência ou por forças Divinas. Talvez soubessem o quão bem ele saberia aproveitar aqueles poucos minutos de graça animal.

O comboio chegou.

Os ratinhos desapareceram definitivamente.

Jeremias mergulhou no transporte.

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