26 de novembro de 2009

Acorda.

Lentamente abrindo os olhos, é imediatamente fulminado por um raio de luz branca. Levanta-se e, às cegas, cambaleando, tenta descobrir algo onde se possa suportar. Posando a mão numa superfície tenta perceber o que é que lhe aconteceu. O raio de luz tinha desaparecido tão depressa quanto tinha aparecido. Esfrega os olhos e finalmente recompõe-se. Olha em volta.

O quarto onde tinha acordado era algo peculiar. O que em primeiro lhe veio à vista é que era revestido de bananas. Por qual razão imbecil, não conseguia conjecturar. Pensou talvez que o escorpião gigante que notou que estava (por acaso) a passear por aqueles lados soubesse alguma coisa (mas por nenhum momento reflectiu porque é que haveria de poder falar com um escorpião). Ele nada sabia afinal, mas indicou que talvez fosse melhor ir lá fora apanhar um bocado de hélio fresco.

Hélio?

Compreendeu que não estava numa situação normal do dia-a-dia, e procedeu a sair do quarto. Fechou a porta ao sair, mas infelizmente ficou com a maçaneta na mão. Atrapalhado, tentou voltar a colocá-la no sítio devido antes que alguém (para além do escorpião que berrava insultos pouco próprios à compreensão humana) reparasse no seu delito. Infelizmente a maçaneta ganhou vida e várias asas finíssimas cresceram em pontos aparentemente aleatórios da sua superfície esférica. Por alguma razão, decidiu voar dali para fora (percebe-se, no entanto; estar constantemente no mesmo sítio e ser objecto de manipulação de várias mãos não deve ser agradável), muito para desespero do nosso personagem, que ainda tentou apanhá-la.

E nisto, caiu escadas abaixo.

Recompôs-se, e, por alguma razão que na altura parecia fazer sentido, decidiu verificar se tinha todos os orgãos do seu corpo intactos.

Pernas. Braços. Cabeça. Cauda. Tronco. Estômago. E os rins? Ah lá estão eles (veio à memória que eles fugiam muitas vezes). Sim, parecia estar tudo em ordem.

Antes de ir para o exterior, retocou a maquilhagem no espelho e deu um jeito no cabelo, penteando-o com um pente mui provavelmente feito de espinhas de camarão que por acaso estava ali. Satisfeito, num impulso louco e repentino, precipitou-se contra a janela, que se desfez em milhões de pedaços (já que era realmente feita de açúcar, não é verdade?) pela passagem do corpo do homem.

Sim, de facto era hélio. Mas de todas as substâncias que se podiam definir como próprias para respirar, porquê logo o hélio!? A voz rídicula com que rapidamente ficou teria de ser algo a que se ia habituar. Observando em volta, edifícios enormes elevavam-se no céu tingido de verde. Crianças brincavam na estrada (mas tinham de ter cuidado com os pinguins motoqueiros, porque eles andavam sempre muito depressa), idosos atiravam pedras a uma equipa de bombeiros porque estavam a tentar roubar-lhes a água do chá, um polícia jogava à bola com uns piratas que depois de terem saqueado a mercearia mais próxima, decidiram divertir-se um bocado, uma dezena de caracóis que faziam uma corrida deveras emocionante (mas extremamente viscosa, diga-se de passagem), unicórnios sapateavam por dinheiro à frente de uma multidão ululante, pois os cavalos tinham lhes roubado o mui excelente negócio que tinham a lavar a roupa (e era deveras um negócio que corria às mil maravilhas), um rato perseguia um gato que perseguia um cão que perseguia uma pulga (felizmente a pulga nunca parava, porque senão o rato acabaria por comê-los a todos), um navio navegava pelo alcatrão, convencido que a mítica ilha dos Pudins era perto, os postes de electricidade falavam ruidosamente entre eles, gerando enormes quatidades de poluição sonora. E isto tudo era uma chatice.

Voltou-se para trás para reentrar em casa, já tinha percebido que aquele não era um dia bom para ir vender chapéus de chuva na praia. Para sua grande (ou talvez não?) surpresa, a casa de onde tinha saido desaparecera. Habituado a este tipo de coisas (depois do que já tinha visto hoje), decidiu voltar-se outra vez para trás e mergulhar na cidade.

Mas esta também tinha desaparecido.

3 comentários:

  1. Caro Sr. Bacalhau, o Sr. deveria sem dúvida alguma escrever um livro, pois a sua criatividade é simplesmente genial! Por ventura, não andará vossa excelência a fumar uns charros valentes? Digo isto com todo o respeito e admiração.

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  2. Sou ainda demasiado novo e inexperiente para escrever um livro, mas agradeço o elogio.

    Felizmente, não precisei de fumar/tomar nenhum tipo de substância recreativa para criar este texto. Neste caso foi só um exemplo de como uma pessoa consegue escrever rapida e fluidamente apenas com as ideias que lhe vêm à mente no momento.

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  3. O LSD dá destas pedradas. Também já vi e escrevi coisas destas...

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